*** Obrigado pela visita! *** Deixe um comentário *** Envie fotos, histórias, causos, etc... para publicação - Enviar no email: pedroornellas1@yahoo.com.br ***

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Que rei sou eu?

Em meus vinte e poucos anos de UBT, uma coisa sempre me intrigou:
por que o príncípe é aclamado, até com certo exagero venerativo, embora com méritos incontestáveis, enquanto o rei raramente é lembrado, e quando isso acontece, só passagem?
Durante esse tempo, nunca o vi ser homenageado nos eventos ubeteanos e poucas vezes vi trovas dele publicadas, e eram sempre as mesmas duas ou três. De modo que eu pensava:
Por que critérios teria sido ele colocado no trono, para depois ser relegado ao esquecimento? Teria sido um equívoco a sua coroação e ele não estaria à altura?
Se foi assim, por que não se revogou aquela decisão, permitindo-se que ele continuasse com o título, na verdade apenas pró-forma, e nas entrelinhas das falas, a sugestão de que o rei deveria ser outro? Mas, e se ele realmente teve o mérito, que circunstâncias teriam levado ao enaltecimento do príncipe e rebaixamento do rei? Mistérios que agora entendo um pouco (só um pouquinho) melhor, ao observar como algumas coisas acontecem no reino da trova. Bisbilhotando na internet, encontrei vários sítios, com biografia de Adelmar Tavares, e diversos deles nem fazem menção de sua majestade.
Encontrei um depoimento sobre ele, feito por J. G. de Araújo Jorge, e nesse pude conhecer um pouco da pessoa e da obra do rei, porque J.G. coloca suas impressões muito bem fundamentadas sobre o personagem que ele conhecia a fundo.
Adelmar compôs lindas trovas pouco divulgadas e a maioria ainda sem a obrigatoriedade da rima dupla. Segue um trecho do texto de J.G. sobre Adelmar:
“Além de poeta, jurista, professor, Adelmar Tavares é um dos marcos que assinalam o prestígio e a revitalização da Trova no Brasil. Pelo seu valor como poeta e pela sua posição social e literária, ajudou o reerguimento da Trova e sua aceitação como gênero poético dos mais apreciados e mais difíceis. Desde a mocidade, com seu primeiro livro "Descantes", em 1907, até os dias que correm, em 1959, Adelmar Tavares tem contribuído magnificamente para a elevação da Trova na língua portuguesa. Já fez as suas bodas de ouro como trovador! E nesses cinqüenta anos tem sido sempre o mesmo: um sincero e admirável poeta simples, cheio de ternura, - um criador riquíssimo de belas trovas! Neste meio-século como o mundo se transformou! E o menino de Goiana e jovem estudante de Recife como subiu! Advogado, professor, presidente do Tribunal de Justiça, membro da Academia Brasileira de Letras. E, no entanto, apesar das modificações do mundo e de sua própria vida, guardou carinhosamente o seu grande amor à Poesia, conservou permanentemente a sua fidelidade à Trova.”
O texto (prefácio do livro “Trovadores Brasileiros”) conclui assim:
“Obs. No II Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, realizado em S. Paulo,
em setembro de 1960, Adelmar Tavares foi aclamado "Rei da Trova Brasileira."
Adelmar Tavares,  faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de junho de 1963”

Trovas do rei:

Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo...

E' nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz,
quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais.

A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas,
quanto mais calmas, mais fundas.

Todo rio na corrente
busca um lago, um rio, um mar.
Mas o destino da gente
quem sabe onde vai parar?

Se eu pintasse minha infância,
pintava, num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio

A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar na vida
depois que os sonhos se vão...

Um comentário: