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Na Roça Tem...

Tempos atrás criamos um tópico na comunidade "Sou Trovador" do José Ouverney com o mote "Na roça tem...". As composições deveriam obedecer estritamente o tema, e a forma sugerida.
O resultado foram obras criativas e de muita qualidade, que merecem maior divulgação.
Esperamos lançar uma 2ª edição com participação de muitos outros trovadores.
São 132 septilhas, mas vale a pena gastar um tempo para apreciá-las:



Na roça tem cafeeiro,
tem milharal, galinheiro,
tem terreiro e pé no chão,
mas shopping... isso não tem não!
Tem alambique, aguardente,
tem um cheiro... (e a gente sente)
que alegra o meu coração!
(Selina Kyle)

Lá tem forno de tijolo,
tem fubá pra fazê bolo,
tem arroz doce, canjica...
lá tem grama tiririca...
na baixada tem neblina,
lá se bebe água da mina
que a gente apara na bica!
(Pedro Ornellas)

Tem ovos frescos nos ninhos
umas dúzias de pintinhos...
Tem o forno de assar pão
perto do caramanchão...
E lá pras bandas do açude
reina a paz e a quietude,
que inspira a minha canção!
(Sônia Tarassiuk)

Tem vaqueiro corajoso
que laça o boi trabalhoso,
escondido lá na mata...
Tem plantação de batata,
de milho, cana e algodão,
riacho, lavando o chão
que a enxada tanto maltrata.
(cida)

No portal um candeeiro,
dentro do colchão, dinheiro.
Tem gaiola nas janelas
e nas portas tem tramelas.
Carne de porco na banha,
nas paredes tem aranha
e biscoito nas gamelas.
(Dáguima Verônica)

Tem no pé fruta fresquinha,
tem gabiroba, tem pinha,
tem mixirica, mamão...
tem melancia, pinhão,
 laranja-lima, pitanga;
tem caqui, banana, manga,
jabuticaba e melão!
(Pedro Ornellas)

O piso da casa é chão,
tem nos fundos um pilão.
Forno de torrar farinha
e um poleiro de galinha.
“Combinação” no varal,
carro de boi no curral,
canivete na bainha!
(Dáguima Verônica)

Na roça, tem a porteira
entre o cercado e a ladeira,
e açudes transbordando...
onde o caipira pescando
tem o almoço garantido.
Depois, na rede, estendido
o rádio, fica escutando.
(Cida)

Tem carinho e muito amor,
tem roupa no quarador ,
lavada em água de anil,
tem flores no peitoril
tem muita ave no campo
tem sapo, tem pirilampo
nas lindas noites de abril.
(Marilu Moreira)

Tem casinha de sapé,
bolo de fubá,café,
mandioca frita e pamonha
e,a Mariazinha que sonha,
com um casório bonito
na igrejinha,com Nhô Dito!
Nessa...Coitada da "Tonha!"
(Vânya Dulce)

Lá na roça tem porão,
pinguela com guarda-mão,
capanga pra guardar prego,
( muito suja, eu não nego),
café pronto na chaleira,
tem pinga na prateleira
pra deixar matuto "cego."
(Dáguima Verônica)

Em casa simples da roça
tem coisa com muita bossa
tem peneira de taquara
tem bode que é a minha cara
tem poço d'água, bem fundo
com a melhor água do mundo
que nada se lhe compara.
(Ilnea Miranda)

Uma rede na varanda
Uma roda de ciranda
A mesa farta e comprida
Onde senta muita vida
Fartura lá do quintal
Para se encher o bornal
Tem na roça, tão esquecida!
(Sônia Tarassiuk)

Na caneca de latinha
café ralo com farinha
tem biju feito pra mim
tem mandioca e aipim
batata assada na brasa
do fogão que aquece a casa
lá na roça é bem assim.
(Ilnea Miranda)

Tem janela pro luar,
serenata pra beijar,
tem poltrona de madeira,
muita uva na videira.
De carinho tem fartura,
dos avós tem a moldura
para amar a vida inteira!
(Dáguima Verônica)

Tem vaquinha no curral
roupa limpa no varal
leite fresco a qualquer hora
e a viola que consola
o caboclo seresteiro
no banquinho do terreiro
quando o sol está indo embora!
(Sônia Tarassiuk)

Tem cachorro perdigueiro,
tem um galo no poleiro,
tem galinha garnisé,
tem até um pangaré...
Tem noite de lua cheia
tem viola que ponteia
pra animar o arrasta-pé.
(Marilu Moreira)

Lá tem contador de história
que cisma em contar vitória;
tem gado preso em cercado
bem tangido e bem cuidado.
Tem tocador de sanfona
que deixa a lua chorona
e o caboclo apaixonado.
(Cida)

Monjolo pilando milhos,
comadre com treze filhos,
compadre cortando palha
raspando fumo em navalha.
“Neguinha” picando lenha
de novo a patroa “prenha”
se ocupa em coser a malha.
(Dáguima Verônica)

Tem muito bicho mansinho,
tem gato, tem cachorrinho,
tem chaleira no fogão...
... pamonha, curau, quentão.
Tem cortina na janela
e à noite a luz de uma vela
me ilumina o coração.
(Selina Kyle)

Tem torradô de café,
tem tomém bicho de pé,
jogo de truco e de maia...
botina, chapéu de paia...
tem monjolo, tem pilão,
tem festa, tem mutirão
e amigo bom que não faia!
(Pedro Ornellas)

Faz xixi na bananeira,
na parede tem peneira,
colchão de palha de milho,
caminho da roça é trilho,
a comida é na marmita!
leite gordo de cabrita
pra fazer Lei no Gatilho!
(Dáguima Verônica)

Sanfona marcando o som,
a viola no mesmo tom,
e o cantador a cantar
que a saudade quer matar...
Vim da roça pra cidade,
mas não aguento a saudade,
e acho que hoje vou voltar!
(Selina Kyle)

Tem trator e tratorista
e cana a perder de vista,
tem vaca com bezerrinho,
marreco pequenininho.
Tem rio cheio no inverno
(que pena, não é eterno)
empatando o meu caminho.
(Cida)

Tem comadre faladeira
que não fica de bobeira
Fala mal do que não sabe
mas nem a culpa lhe cabe
pois se não for repetido
tudo será esquecido...
talvez... a fofoca acabe.
(Ilnea Miranda)

Na roça tem passarada
em sublime revoada,
tem árvores, plantação,
fertilidade no chão,
tem água pura na fonte
bem ali no pé do monte...
tem vida, amor e paixão.
(João Costa)

Tem também a dura lida
que é trabalhosa e sofrida...
Pois nem sempre o semeado
traz resultado esperado...
Mas a fé do sertanejo
reaviva o seu desejo,
e toca pra frente o arado...
(Sônia Tarassiuk)

E, à noite, o céu estrelado
vem compensar o cansado
sertanejo que, à varanda,
vê o seu gado que anda
pelo pasto, à luz da lua,
e a vida, assim, continua...
... como Deus do Céu nos manda!
(Selina Kyle)

Lá na roça tem penico,
menstruação se chama Chico,
a diarréia é caganeira
e é folha de bananeira
que se limpa no “local”.
Arma de vaqueiro é pau
pra fechar vaca Faceira.
(Dáguima Verônica)

Cafezinho de comadre
aprovado pelo padre
tem biscoito de polvilho
e tem cavaca de milho
dura de quebrar o dente
se comida de repente
enquanto faz trocadilho.
(Ilnea Miranda)

Na roça tem fazendeiro
muito disposto e faceiro
que no campo, passa o dia.
Mas à noite se agonia
querendo amor a granel
na rede, olhando pro céu
estrelando com a Maria.
(Cida)

O pão de queijo quentinho,
hoje tem no meu cantinho
que Deus sempre abençoou!
Mal a alvorada soou,
eu levanto e vou pra roça,
tocando o boi da carroça
que me leva aonde eu vou.
(Selina Kyle)

Ah! quando chega o domingo
tem até “pé de cachimbo”,
nada de pito de palha,
dia santo, não trabalha,
vão à missa pra rezar
é dia de se arrumar,
fazer barba com navalha.
(Dáguima Verônica)

Tem numa lasca do rancho
 lampião suspenso num gancho,
sanfoneiro de respeito
marcando um xote a seu jeito...
E lembrando a mocidade
tem uma baita sodade
escrafunchando em meu peito!
(Pedro Ornellas)

No bom sentido, ó xente
foi isso aí, de repente,
pois que a roça é uma beleza
é cheia de gentileza
é cheia de coisa boa
do empregado à patroa
é fartura e natureza.
(Ilnea Miranda)

Lá tem paredes caiadas
bate o sol, estão douradas,
água fresca tem na talha,
lá não tem nego que “falha”,
pois tem ovos de codorna
e gemada na água morna
a tisnar lá na fornalha.
(Dáguima Verônica)

Tem café em pilão batido
que foi torrado e moído
e passado no coador
hum! cheirinho encantador
feito no fogão de lenha
não há ninguém que desdenha
dessa riqueza, o sabor!
(Sônia Tarassiuk)

No quintá um poço raso
Onde nasceu pur acaso
Certa feita um pé de ipê
Tão bonito como quê...
E uma istória interessante
Numa estrofe mais adiante
Eu vô contá pra vancê!
(Pedro Ornellas)

Tem patos nadando em lama,
malas debaixo da cama.
Cercas de arame farpado,
mulher no cabo de arado.
Pão-de-queijo na gamela,
macaúba na panela...
e buraco, só no trado!
(Dáguima Verônica)

Tem nas lembranças do ausente
uma saudade insistente
que corta igual canivete...
no peito, pintando o sete,
inspira versos e rimas
verdadeiras obras-primas
que a gente vê na Internet!
(Pedro Ornellas)

Tem o sotaque "maneiro"
do caipira hospitaleiro...
Doce d'abóbra no tacho
que hoje procuro e não acho...
Tem as mangueira frondosas
de frutas deliciosas...
E as bananas só em cacho...
(Sônia Tarassiuk)

Tem violeiro entoado
cantando o seu passado
nas cordas d'uma viola,
no quintal da fazendola,
chamando num assobio
"cumpadi prum desafio"
não aprendido na escola.
(Marilu Moreira)

Numa toada bem matreira,
canta, o moço, a noite inteira,
o que vai no coração.
As cordas do seu violão
já estão pra lá de bem gastas,
mas as donzelas, tão castas,
nem chegam no janelão.
(Selina Kyle)

E tem mais: lá tem viola,
que no ponteio consola
as mágoas do sofredô...
e um pé de ipê, seu dotô,
que dexa na primavera
o teiado da tapera
atapetado de frô!
(Pedro Ornellas)

No meio-dia, cansado,
larga o cabo do machado,
o sertanejo... e a labuta.
Senta e fica só na escuta
do tropel da cavalhada,
que vem pisando na estrada
trazendo o almoço... oh, que luta!
(Selina Kyle)

Tem a colcha de retalho
tem ranger do assoalho
tem toalha de crochê
Cozinha com fumacê
tem cebola e muito alho,
na roça tem espantalho
e tem saci-pererê....
(Marilu Moreira)

Lá na roça, tem bodega
- de graça, ninguém não pega -
pode ler na tabuleta:
Fiado? Na caderneta!
Bodegueiro cinquentão,
tem de querosene a pão;
bola, pião e corneta.
(Cida)

Uma colcha de retalho,
bem grossa, como agasalho,
para ficar na varanda
vendo a lua olhar de banda,
iluminando o terreiro,
e o vaga-lume ligeiro
que voa, acende e "se manda".
(Selina Kyle)

O povo ajuda contente,
é fiel e nunca mente,
comida farta na mesa
com sorriso na pobreza.
Cada um tem seu jardim,
no perfume do jasmim
conserva toda riqueza!
(Dáguima Verônica)

Tem no meu peito de ausente
uma sodade insistente
que me estraçaia e me corta...
pur isso é que sem revorta
carrego a roça no peito
pru módi tê desse jeito
tudo o que eu tive de vorta!
(Pedro Ornellas)

Lá tem causos de arrepiar,
muitas mortes pra lembrar...
Em noites de assombração
geme os mortos no porão!
Dona Maria, contando,
diz que os mortos vão voltando
pra cobrar a escravidão!
(Dáguima Verônica)

Um preto velho cantando
e o seu cachimbo fumando,
fica a admirar a roça
da porta de sua palhoça,
se reúne a molecada
"causos" são d'alma penada
a se levantar da poça...
(Sônia Tarassiuk)

E quando chega a tardinha
e a noite já se avizinha,
a molecada, com medo,
prefere dormir mais cedo
do que se chegar pro fogo,
para ouvir o velho jogo
de contar causos... que enredo!
(Selina Kyle)

Lá tem banana no cacho
murici no pé, eu acho...
moça prendada bordando,
senhora de fé rezando...
Tem um descaroçador
que é missão de Valdonor
que dizem, nasceu trovando...
(Dáguima Verônica)

No dia de marcar gado
buscava rês no cerrado,
punha o ferro no fogão
e gritava pro peão:
-Traz rápido o ferro quente
pra marcar o que é da gente,
aqui também tem ladrão.
(Dáguima Verônica)

Tem numa lasca do rancho
 lampião suspenso num gancho,
sanfoneiro de respeito
marcando um xote a seu jeito...
E lembrando a mocidade
tem uma baita sodade
escrafunchando em meu peito!
(Pedro Ornellas)

Tem tomate, tem quiabo,
tem rabanete, tem nabo,
tem salsa, tem cebolinha,
tem coentro e abobrinha,
repolho, batata doce,
capim-limão, erva doce,
e um pé de pimentinha.
(Marilu Moreira)

Vivi, quando era pequena,
uma roça mais amena,
a estrada não tinha asfalto
tropeiro cantava alto
tangendo sua boiada
e eu sentia, encantada,
meu coração dar um salto.
(Ilnea Miranda)

Tem coração de mocinha,
que, largando a bonequinha,
já quer ter um namorado,
que venha enfatiotado
levá-la à missa e ao forró,
que peça "a bença" à vovó
e a faça rir, de engraçado!
(Selina Kyle)

O matuto que é safado,
(que nunca comeu melado)
tem na vila uma “polaca’
que ginga como matraca
no plantio de feijão
na roça de chapadão
onde não pode entrar vaca.
(Dáguima Ver\ônica)

No mato,a jaguatirica,
tem cachaça na barrica,
tem historias de saci,
tem canto de bem-te-vi
domingo, jogo de malha,
água fresca numa talha
tem coisas que nunca vi
(Marilu Moreira)

No alto de uma colina
a quaresmeira se inclina
pintando o céu de lilás,
numa mensagem de paz,
e a brisa, soprando mansa,
nos traz de volta à lembrança
o que já ficou pra trás.
(Selina Kyle)

Em noite de dia santo
sanfona geme num canto
pra fazer peão chorar,
pensa ele: a quem amar?
as moças vão pra cidade
em busca da tal vaidade
pra nunca mais voltar!
(Dáguima Verônica)

...Café no bule e pinhão,
vó Dita amassando o pão!
...Um franguinho de panela,
cotovelos na janela!
Pombinho arrulhando a toa,
muito banho de lagoa...
Vida boa além de bela!
(Vânya Dulce)

Bota o gado na invernada,
tropeiro com pé na estrada
tem matula no embornal:
uma pamonha de sal
e farofa de galinha
bem socada na latinha
pra caber o essencial.
(Dáguima Verônica)

em missa, tem ladainha,
tem queimada, amarelinha,
bola de gude, peteca,
tem o jogo de sueca,
em noite de lua cheia
tem sempre festa na aldeia
à tarde tem a soneca.
(Marilu Moreira)

Tem cabra, tem boi mugindo
tem até vaca no cío,
tem, como nunca se viu,
um campo todo florindo
depois tem chuva caindo,
tem correnteza no rio,
e andorinhas indo e vindo.
(Raymundo de Salles Brasil)

Na varanda tem cutelos
muitos pregos e martelos,
foices de todo tamanho
e marcas para o rebanho.
Porteiras de pororoca,
cabaças pra por minhoca
e as tais chumbadas de estanho.
(Dáguima Verônica)

Tem tocadô de sanfona,
tem plantação de mamona
e tem cantiga de grilo...
e eu que deixei tudo aquilo
um dia ao sair de lá
quando alembro chega dá
um nó no meu grugumilo!
(Pedro Ornellas)

No pomar tem tangerina,
beirando a cama, a botina.
Tem primavera florindo,
e quanto mais sol... mais lindo;
à noite os grilos cantando,
e as nuvens vão se esgarçando
nesse seu passeio infindo.
(Selina Kyle)

Lá tem água cristalina,
tem o sol que descortina
e anuncia o alvorecer,
tem jardins a florescer
tem pedaço, tem remendo,
de vidas, tem dividendo
tem homens a envelhecer....
(Marilu Moreira)

Nuvens formando figuras,
graciosas esculturas
que parecem de algodão...
Tem pipoca, tem quentão,
abobrinha no refogo
e a gente 'quentando' fogo
junto à taipa do fogão!
(Pedro Ornellas)

Estilingue pra caçar
passarinho pro jantar,
garrucha de bambu fino,
-arma de todo menino-
pra dar tiro bem ligeiro
preparando o cavaleiro
desde muito pequenino.
(Dáguima Verônica)

Lá tem cantiga de roda
que nunca saiu de moda,
tem picada, tem ataio;
Capim moiado de orvaio,
água fresca na moringa
e talagada de pinga
- mas só dispois do trabaio!
(Pedro Ornellas)

O arrebanhar de peões
pra mostrar, em mutirões,
o Deus Menino tão pobre
que pra ser um Rei tão nobre
basta ser mui caridoso
ser um peão amoroso
que pra Deus o joelho dobre.
(Dáguima Verônica)

Tem torrador de café,
chiqueiro, bicho-de-pé,
água escorrendo na calha...
amigo que nunca falha,
lá tem poço com sarilho
tem torta e broa de milho
botina e chapéu de palha!
(Pedro Ornellas)

Fogão de lenha esquentando,
batata doce assando,
reza do terço na sala,
roupa guardada na mala!
Tem linguiça no "fumero",
cachaça feita com esmero,
rapadura e muita bala!
(Vânya Dulce)

Lá tem espontaneidade
quero dizer, na verdade,
gente de coração puro,
seja claro ou seja escuro,
é sempre do mesmo jeito
tem a verdade no peito
não fica em cima do muro.
(Dáguima Verônica)

Tem muro de cemitério
que esconde um certo mistério,
pé-de-moleque, cocada,
que agradam à garotada;
tem brincadeira de roda
(que essa nunca sai de moda)...
A roça é boa... a danada!
(Selina Kyle)

Tem máquina de costura
com tudo que se procura:
dedal, botões, linha, agulha...
Tem pomba-rola que arrulha
porco gordo no chiqueiro
cavalo manso e ligeiro
e arroz guardado na tulha!
(Pedro Ornellas)

Lá tem duença deferente!
Si u muleque fica duente
pode sê que teja aguado
o das bicha discunfiado.
Quem num tem berne na bunda
véve cum dor na cacunda,
morre de bucho virado...
(Paulo Tarcizio)

Tudo é divinação,
fica aberto o coração
lá na roça, no meu lar.
No fogão a crepitar
junto à lenha e o fogaréu
vejo naquele escarcéu
meu amor esbrasear.
(Palas Athena)

Lá tem paiol, tem picada,
tem gado bom na invernada,
tem galinha no terrero
e eu que tomém fui rocero
tarde aprendi na cidade
que a tar da felicidade
não se compra cum dinhero!
(Pedro Ornellas)

Lá na roça é diferente,
eu me sinto tão ardente.
Dos meus sonhos na ciranda,
numa rede na varanda
onde eu possa divagar
com os beijos sem cessar
deste amor que em mim comanda.
(Palas Athena)

Lá no galho da paineira
bem pertinho da cocheira,
dorme o galo cantador
com garganta de tenor
pra Maria ele acordar,
a rabinha vai esquentar,
é café pro seu senhor.
(Dáguima Verônica)

Tem espinhela caída,
muita noite mal-dormida
tem até ventre-virado
deixando o pobre coitado
a procurar “benzedeira”
pra se livrar da canseira
deixa-lo, inteiro, curado.
(Marilu Moreira)

Pro sertanejo é chacina
dia de tomar vacina,
não tem medo de serpente,
mas, na agulha ele sente,
aquela dor tão profunda
quando tem que mostrar bunda
pra macho bem diferente.
(Dáguima Verônica)

Lá que tem Seu Zé quejero
que trabáia sem vaquero,
só ele e a Dona Carminha.
Levanta madrugadinha,
tira o leite da vacada
depois vem, ca costa arcada,
tomá café na cozinha.
(Paulo Tarcizio)

Lá tem capim amargoso,
que é ruim de carpi, tinhoso,
chega faz calo na mão...
lá num tem moleza não...
pra cabocro bom de enxada
lá tem roça praguejada
de carrapicho e picão!
(Pedro Ornellas)

Tem a cabrinha de um dia
que nasce e já faz folia
cabeceando a galinhada
que sai tudo em debandada
- menos a galinha choca,
que os seus pintinhos convoca,
se arrepia e dá bicada.
(Paulo Tarcizio)

Tem um menino bobinho
que se envergonha todinho
quando encontra ca Rosinha.
Esta sim, é espertinha,
vê que o menino tá ganho
mas dá riso de arreganho
pra quem passa na estradinha.
(Paulo Tarcizio)

Feijoada de mocotó
é tão boa que dá dó
ver escorrer no pescoço
aquele “cardo” tão grosso,
a mãe, de testa franzida,
vê, a moça na “lambida”,
“zoiando” “praquele” moço
(Dáguima Verônica)

Tem a colcha de retalho
tem ranger do assoalho
tem toalha de crochê
Cozinha com fumacê
tem cebola e muito alho,
na roça tem espantalho
para o milho não "cumê"
(Marilu Moreira)

Na roça, em minha cabana,
tem facão de cortar cana,
tem lenha no fogo e até
tem sempre bolo e café;
tem lamparina de azeite,
tem muita flor como enfeite...
Vem aqui pra ver como é! 
(Selina Kyle)

Lá tem jacá de taquara,
é feito de fina vara
tirada do bambuzal
bem perto do milharal,
lugar de preparar ceva
pra onde o perigo leva
a caça, bicho animal
(Dáguima Verônica)

Tive lá Pedro, e gostei!
Que belezura essas moda...
É que nem quando na roça
lá no galpão se acomoda
todo o povo do retiro
que chega a solta suspiro
pros violeiro em meio à roda...
(Sônia Tarassiuk)

Água se guarda no pote
pra roça vai no corote,
na moringa ou na cabaça...
lá na mina tem de graça
pagamento não precisa
pra quem encharca a camisa
enfrentando uma quiçaça!
(Pedro Ornellas)

Muita festança e rojão,
canelinha e quentão...
Tem uma "baita" quadrilha,
"camaradage" e partilha
não só de pão mas, de par
que as vezes chega no altar
formando bela família!
(Vânya Dulce)

Lá tem, de manhã bem cedo,
requeijão de leite azedo
deixado pelo leiteiro
que, preso num atoleiro,
amanheceu lá no brejo
por causar o maior frejo:
chamou de sogro o vaqueiro.
(Dáguima Verônica)

Morta a bezerra de um dia
afogada na água fria
na cachoeira do poção.
Prende o leite, de paixão,
a boa vaca leiteira.
Mergulha a Rosa vaqueira:
volta com o bicho na mão.
(Paulo Tarcizio)

Tem cipó pra gangorrar
e ribeirão pra nadar,
tem muito capim-gordura
e canavial com fartura
pra fazer muita cachaça,
o melado sai de graça
e só vende a rapadura.
(Dáguima Verônica)

Tem mato pra se esconder
brincadeira de correr,
roubar fruta do vizinho,
depois fugir de mansinho...
Tem doce feito no tacho,
bicho na goiaba... eu acho.
Como é bom esse cantinho!
(Selina Kyle)

Lá tem moda sertaneja,
bule quente na bandeja,
disco em cesto de por milho
embrulhado em coxinilho,
pra sentar tem um pelego,
num banco perto do rego...
na vitrola um Estribilho .
(Dáguima Verônica)

Noite de lua encantada
tem viola enluarada
tem canção de seresteiro
tem cavalo de vaqueiro
leva a moça garupa
e fazendo upa, upa,
vai bancando o cavaleiro.
(Ilnea Miranda)

Amendoim saboroso
-isso é viagra pra idoso,
também plantação de trigo
e pra fazer doce, o figo,
limão, laranja e banana...
Sutiã de barbatana
pra evitar qualquer perigo.
(Dáguima Verônica)

Banquinho feito de tora,
café moido na hora,
passado no coador,
pra aumentar seu sabor
água fresca na moringa
garrafa de boa pinga
prá espantar dissabor...
(Marilu Moreira)

Mulher grávida é 'buchuda'
no quintal tem pé de arruda
filho novo é 'bacorinho'
boca cheia de sapinho
varal de arame farpado
violeiro apaixonado
tangendo as cordas do pinho!
(Pedro Ornellas)

Na roça tem uma venda,
tem de tudo que encomenda,
vende tudo “pendurado”
e não tem preço dobrado,
o vendeiro é gente boa
vende banha de leitoa
e toucinho defumado.
(Dáguima Verônica)
Noite escura, madrugada,
feiz baruio a cachorrada.
Deu medo de sombração
e eu qui num fui lá vê, não.
De manhã no galinheiro
nóis vimo que o perdigueiro
distroçô um gambazão.
(Paulo Tarcizio)

O clima é de nostalgia
sempre reina a cantoria
lamparina com pavio
sanfona da cor de anil
o casal dentro da rede
eletrola na parede
velhos discos de vinil.
(Dáguima Verônica)

Picada de marimbondo
que deixa o rosto redondo
cipó e urtiga no mato
no pasto tem carrapato
tem muriçoca, tem peba,
tiriça, berne e pereba
bichano que pega rato!
(Pedro Ornellas)

Tem pulga e bicho de pé
e só tira quem “quisé”
vai ficando dolorido
o povo dá dor de ouvido
de escutar reclamação
por andar com pé no chão
e ficar tudo encardido.
(Dáguima Verônica)

Tem fala móle e cantada
tem queijim com goiabada;
tem milho verde brotando
e uma leitoa engordando.
um berrante pendurado...
chapéu de palha furado,
fogão a lenha queimando!!! 
(Andreia Ettiopi)

Na roça tem mutirão,
um boi chamado Moirão,
tem canga no seu pescoço
numa “junta” com Caroço,
essa dupla é cabeceira
carreia a semana inteira
sem descanso para almoço.
(Dáguima Verônica)

Tem vizinhança sadia
caboclo que dá "bom dia"
mesmo pra quem não conhece
tem quando o dia amanhece
orquestra de passarinhos,
na alegre festa dos ninhos
que o meu retorno apetece!
(Pedro Ornellas)

Tem velho que é muito xucro
(até perdi todo o lucro)
Por namorar mariquita.
Não achem coisa esquisita:
Ele veio com trabuco
todo doido, bem maluco
dizendo: - Se perulita!...
(Cairo Pereira)

Tem toco de bater sola
do polvilho faz a cola,
alguns chinelos de embiras
trançados com belas tiras...
linda colcha de retalho
lá na mesa do baralho
para alegrar os caipiras.
(Dáguima Verônica)

Tio Dito era o sanfoneiro,
o Waltinho no pandeiro
e eu tocava violão...
e o tal "limpa-banco" então?...
Meia-noite, uma rancheira,
ninguém fica na cadeira
- pega fogo no salão!
(Pedro Ornellas)

Eu nunca vou me esquecer,
em minha mente vou ver
aquele suco de milho...
Lá no bar do Seu Castilho
e eu muito longe da roça:
(a lembrança dessa joça)
só me traz dor neste trilho.
(Cairo Pereira)

Lembro bem de uma bacia
que ficava lá na pia
era feita de metal
toda em cobre, especial
a nossa bela banheira
de amparar, também, goteira
em dias de temporal.
(Dáguima Verônica)

O calor que forte bate
faz lembrar: touro no abate,
faz lembrar do frio do Andes
mesmo que pra sombra ande
eu sempre fico a pensar
e comigo a perguntar
como é que é cidade grande?
(Cairo Pereira)

Lá tem caboca triguera
tem caba bom di penera
na coieita de café...
Lá tem Maria, tem Zé,
tem batata na foguera
tem moleque na carrera
fugindo de buscapé!
(Pedro Ornellas)

Tem passarada que canta
assim que o Sol se levanta
para saudar mais um dia,
e, com a água na bacia,
lavo o meu rosto amassado,
tomo o meu café coado,
com bolo de Nhá Maria.
(Selina Kyle)

Lá na roda da fogueira
a rapaziada inteira
pega o cachimbo e o bom fumo;
da semana faz resumo
falando das fofoqueiras
das meninas matriqueiras
que vive andando sem rumo.
(Cairo Pereira)

Tem moenda, tem pilão,
se anda de pé no chão
tem cinto feito de embira
tem caruru, cambuquira...
tem caniço e samburá,
tem gamela e tem jacá
que um modão sempre me inspira!
(Pedro Ornellas)

Tem uma égua no cio,
uma canoa no rio,
um cachorro no terreiro,
galo acantar do poleiro,
moça a sonhar na janela
e eu com saudade dela
vagando sem paradeiro...
(Antônio Juraci)
Eu acordava bem cedo,
já corria pro arvoredo...
depois voltava cantando
com a barriga roncando,
então pegava a caneca,
com açucar e café...
levava lá pra "boneca"
a vaquinha do tiu "Zé"!!!
(Andreia Ettiopi)

Tinha o Leite bem branquinho
deixava até um bigodinho...
de tanta espunha que vinha,
numa caneca inteirinha,
ia brincar no terreiro,
me sujava no barreiro
da chuva que de noitinha
molhou a terra inteirinha.
(Andreia Ettiopi)

Dia de feira de gado
tinha um boi muito enfezado
lá no alpendre ele embrenhava
o povo todo gritava
e com vara de ferrão
fiz cair sangue no chão
provando que sou mais brava!
(Dáguima Verônica)

Na roça a vida é assim
tem plantação, tem capim,
tem rasta-pé todo dia
lá na casa da Maria,
tem galinha no terreiro
tem porco lá no chiqueiro,
é lá onde a "PORCA" chia...
(José Moreira Monteiro)

Na roça tem pinga boa
que quando pega atordoa...
tem foice, enxada e facão...
tem gente de pé no chão,
tem cedo gente de pé
tem torrador de café
depois que sai do pilão!
(Pedro Ornellas)

Vacas de laranja-lima
pedra pra brincar de ímã
e carrinho de lobeira
pra rodar lá na ladeira.
O que era chique, de fato,
era Monteiro Lobato
narrado ao pé da porteira.
(Dáguima Verônica)
Tem uma égua no cio,
uma canoa no rio,
um cachorro no terreiro,
galo acantar do poleiro,
moça a sonhar na janela
e eu com saudade dela
vagando sem paradeiro...
(Antônio Juraci Siqueira)




4 comentários:

  1. Tem galo cantando cedo
    vaqueiro que não tem medo
    distância medida em légua
    briga que termina em trégua
    e pela gôta serena
    juro, tem cada morena
    ô sertãozinho pai-dégua!
    Francisco José Pessoa

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  2. Andreia Simone entre em contato
    fmadeyra@terra.com.br

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  3. Roça qualquer um define
    é motivo de sátira e gozação
    só quem nela trabalha exprime
    quão difícil é a tal da aração

    rico sabe que existe
    mas não sabe como é!
    O pobre nela resiste
    e sabe quão duro é!

    Enfim..a roça tem evoluido
    hoje é tema de televisão
    quem dela tirou partido
    sabe que cumpriu sua missão!
    Mais comida, menos inflação
    Sem falar da tal corrupção
    se liga meu irmão...
    Caipira é pura ilusão
    de quem acredita na submissão!!

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  4. A roça... e minha alma acata
    a busca de outros caminhos...
    Nunca mais a verde mata,
    nunca mais os passarinhos.
    Olympio Coutinho - BH

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