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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Sua Majestade, a Trova!

A Trova no Brasil
Não podemos afirmar que a trova chegou ao Brasil a bordo das caravelas de Cabral, mas que foram os portugueses que a trouxeram na bagagem no início da nossa colonização, não restam dúvidas. No início não passavam de simples repetições ou versões de quadras de além-mar. Com o correr do tempo, termos e temas tipicamente nossos foram sendo agregados às trovas e estas foram adquirindo feições próprias, não faltando composições em tupi-guarani. Mas, a exemplo do que ocorreu em todos os lugares onde floresceu, aqui a trova também esteve intimamente ligada às manifestações culturais de cunho popular, na forma de cantigas, desafios, adivinhas, etc. Desde a data do descobrimento até o início do século XX, além dos trovadores populares, muitos poetas de renome, eventualmente, a produziram. Entre estes podemos citar Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Gregório de Matos entre outros. No início do século passado, influenciados por um movimento em torno da trova ( em Portugal é dita quadra popular ou quadrinha ), ocorrido na Universidade de Coimbra, quando estudantes compunham e cantavam trovas ao som do fado, estudantes brasileiros de Recife passaram a cultivar esse gênero com entusiasmo, sendo o “Descantes”, livro publicado em 1907, uma referência desse movimento. Entre os cinco autores do “Descantes”, todos estudantes de Direito, aparece o nome de Adelmar Tavares ( 1888 – 1963 ) que além de mais tarde ingressar na Academia Brasileira de Letras, foi eleito, em 1858, “rei dos trovadores e violeiros”. Nessa época a trova também era cultivada no sul do país por trovadores autênticos do porte de Catulo da Paixão Cearense, Belmiro Braga, Vicente de Carvalho e Martins Fontes. Com o advento da Semana de Arte Moderna de 1922 e sua ira contra os clássicos, as composições de versos fixos como a trova e o soneto foram atingidos em cheio. O que não impediu, contudo, que alguns modernistas, ainda que esporadicamente, produzissem trovas como estas, respectivamente, de Menotti Del Picchia e Mário de Andrade:
Saudade, perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê.
Eu peno todas as dores
com este amor que deus me deu.
Quem achou os seus amores,
a si mesmo se perdeu.
Na década de 30, em pleno domínio do Modernismo, dois trovadores autênticos continuaram produzindo trovas: Belmiro Braga, poeta mineiro de Juiz de Fora ( 1870 – 1937 ) e o pernambucano Adelmar Tavares, a quem coube a missão de conduzir o estandarte da trova até a década de 50 quando Luiz Otávio, nome literário do dentista carioca Gilson de Castro, (1916 – 1977 ) inicia campanha nacional para a publicação de uma coletânea reunindo duas mil trovas de mais de seiscentos trovadores de todo o Brasil. O resultado de todo esse trabalho veio à luz em “Meus Irmãos, os Trovadores”, lançado em 1956 com absoluto sucesso, chegando a encabeçar várias listas de livros mais vendidos, redobrando o interesse pela trova e constituindo-se num marco do mais genuíno movimento literário brasileiro. Movimento que ganhou força com a criação, dois anos mais tarde, do Grêmio Brasileiro de Trovadores – GBT, entidade presidida pelo cordelista alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante ( 1917 - 1986 ) e que congregava, além de cordelistas e violeiros, trovadores literários. Com o fomento dos jogos florais, concursos de trovas e encontros de trovadores e violeiros a década de 60 revelou-se como a década de ouro do trovismo brasileiro, tempo em que a trova e seus cultores ganharam espaço destacado em todos os meios de comunicação da época, com programas radiofônicos, páginas e colunas em jornais de grande circulação, edição de inúmeros livros, boletins informativos, etc. Em 1966, a já desgastada convivência entre trovadores literários e trovadores populares ( cordelistas e cantadores ), chegou ao fim, resultando na fundação da União Brasileira de Trovadores – UBT, presidida por Luiz Otávio, agora congregando trovadores e amigos da trova e assumindo o comando dos concursos de trovas e jogos florais, muitos dos quais persistem até hoje.
Na década de 80, o paranaense Eno Teodoro Wanke ( 1929 – 2002 ), grande estudioso da trova e dissidente da UBT, lançou as bases do “Neotrovismo” , movimento que incentivava e coordenava a criação de “Clubes de Trovadores” em todo o Brasil, além da criação da FEBET – Federação Brasileira de Entidades Trovistas. Tal movimento, apesar do esforço do seu idealizador, não logrou o êxito almejado e hoje, após sua morte ocorrida em 2002, excetuando a permanência do Clube dos Trovadores Capixabas presidido pelo trovador Clério José Borges, praticamente desapareceu.
Atualmente, a União Brasileira de Trovadores, já sem o brilho de décadas passadas, padece do mesmo mal que atingiu todas as entidades culturais do país, reflexo de uma sociedade cada dia mais globalizada e individualista. Apesar disso, a UBT-Nacional, através de suas seções municipais e delegacias, continua realizando os concursos de trovas e jogos florais. Recentemente, com o surgimento da Internet, a trova tem dado sinais de recuperação através de Blogs, Sítios e Comunidades de trovadores, uma poderosa ferramenta dos nossos dias para a produção e divulgação desse gênero tão antigo quanto popular e cativante.
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( Do livro: A Trova no Brasil, no Pará e no Folclore)

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