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terça-feira, 16 de julho de 2013

Viagem no trem da trova

No saudosismo dos poetas, a inspiração se alimenta de coisas que o progresso tornou obsoletas, mas que conservam um toque romântico, mais pelas lembranças que evocam do que pela funcionabilidade, razão pela qual são supervalorizadas nos versos. Isso explica o fascínio pela estrada de chão, pelo carro de bois, pelo lampião de gás... e pelo trem de ferro, objeto de nossa atenção nesse tour pelos intrincados labirintos da inspiração poética.
Você é nosso convidado... Pegue seu bilhete, procure sua poltrona e aprecie a viagem!

O trem de ferro fez parte da infância de muitos poetas grisalhos. Por isso infância e trem andam de mãos dadas na fantástica trova de Cipriano Ferreira Gomes:

Pelos trilhos da distância,
no trem das minhas tristezas,
somente o vagão da Infância
tem janelinhas acesas!

Se perder o trem é uma tragédia para uns, para outros não é tão grave assim. Para Alberto Paco, nem tudo está perdido. Ele explica:

Deixa que o trem vá embora.
Não é preciso correr!
Sempre haverá outra hora
de outro trem aparecer.

Também Dáguima Verônica encontra semelhança positiva entre a corrida do trem e a corrida da vida:

Não desista ante empecilhos
que o segredo é acreditar;
quem corre a favor dos trilhos,
cedo ou tarde há de chegar!

Dorothy Jansson Moretti, num momento saudosista, lamenta a ausência do gigante de ferro:

Nunca mais o trem passou,
mas ainda lhe ouço o apito;
o silêncio eternizou
a saudade do seu grito.

Para alguns poetas o trem ganhou status de vilão, por levar embora o ser amado. Hermoclydes Siqueira Franco, descreve de forma sublime a vívida a imagem do trem se afastando:

Na distância, ao teu aceno,
quanta tristeza me invade...
O trem ficando pequeno
e em mim crescendo a saudade!

Almas gêmeas separadas, despedidas... e o trem, cumprindo seu papel de cúmplice involuntário... Às vezes ao levar a parte que parte leva tembém parte de quem fica.
Pelo menos foi como se sentiu Edmar Japiassú Maia:

Partiste e, num desatino,
teimando em partir, também,
meu coração, clandestino,
viajou no mesmo trem...

O trem chega e parte. Chegada lembra alegria, partida lembra tristeza. Tristeza marca mais do que alegria. Por isso o poeta fala mais de partida do que de chegada. O apito é simplesmente o sinal de que o trem vai partir, mas para o poeta é muito mais do que isto.
O apito machuca, conforme expressa essa trova do magnífico trovador Joao Freire Filho:

É talvez o último abraço...
vais partir... apita o trem...
e o apito cortando o espaço
corta minha alma também!

Num momento de perda, a solidariedade traz conforto, mesmo que seja apenas imaginária, como esta percebida por Pedro Ornellas:

O trem partindo... um aceno...
e ao retornar pela estrada,
vi lágrimas de sereno
nos olhos da madrugada!

A  dor da partida é amenizada pela esperança do regresso. Quando esse não se concretiza, há quem prefira iludir-se, justificando o desencontro, como faz Pedro Mello:

Na estação do meu anseio,
nos perdemos de nós dois...
- Não foi o trem que não veio:
fui eu que cheguei depois...!

Mas há quem vá mais longe, e para esconder do mundo a dor do abandono, finge o que não vê, como nessa magistral trova do grande poeta Octávio Venturelli, fechando com chave de ouro nossa breve mas intensa viagem pelo mundo poético, a bordo do trem da trova:

Na velha estação de trem,
que a solidão dominava,
eu acenei a ninguém...
fingindo que alguém chegava...

O trem não para. Outros passageiros podem embarcar e ensejar novas jornadas pelos trilhos da trova. Quem sabe novos encontros. Oxalá estejamos juntos. Espero por vocês! 
 (texto de Pedro Ornellas)



4 comentários:

  1. Pedro Ornellas, você me fez chorar de emoção...
    Minha infância foi pautada nessa realidade
    maravilhosa do Trem de ferro!
    Obrigada por valorizar nossas raízes.
    Belas trovas, grandes emoções.
    Abraços nostálgicos.

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  2. Obrigado, amiga Dáguima. Esse trem mexe com a gente, não é mesmo? Abraços!

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  3. Pedro ,adorei esta coletânea de trovas com o tema"Trem".Cada uma mais linda do que a outra.Na minha vida,também,o trem deixou muitas saudades.meu pai era ferroviário e viajávamos muito de trem.Vc foi muito feliz.Parabéns!Da próxima vez,embarco nessa estação chamada "Saudade" e vou de trem ao encontro da estação "Esperança".

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  4. O trem do tempo, cumpre sua missão

    seguindo sempre, rumo a eternidade,

    mas esquece de levar em algum vagão

    uma passageira chamada saudade !

    ***************************************************


    Henrique Eduardo Allves Pereira

    - Maracanaú - CE -

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