(artigo divulgado em carta aberta aos trovadores em março de 2010)
Nos últimos anos tive participação mínima nas atividades da UBT. Em 2008 não participei em nenhum concurso, já em 2009 escolhi participar de alguns, por afinidade, como os de Maringá e Nova Friburgo. No ano presente também não estou participando. Também não tenho frequentado as reuniões mensais da seção.
Minhas razões são duas:
Primeiro, por ser muito atarefado não posso dedicar-me mais em produzir e participar das atividades trovadorescas.
Antes de apresentar o segundo e decisivo motivo, quero dizer que sou muitíssimo grato à UBT, que me deu a oportunidade:
1) de conhecer e interagir com os melhores poetas da atualidade,
2) fazer muitos e bons amigos e
3) dar a conhecer a minha arte, e ter reconhecido o seu valor.
Essas coisas são permanentes e intocáveis.
Isso posto, espero que meu segundo motivo de afastamento não seja erroneamente encarado como ingratidão ou até mesmo como meramente um questionamento implicante. Mesmo assim, é bem provável que não seja bem aceito e que venha a ferir a suscetibilidade de alguns. Nesse caso, lamento mas não posso evitar...
Mesmo assim quero que o conheçam, pois é o que sinto e o que me afeta.
A razão é o fato de a UBT não praticar o que até mesmo reza em seu estatuto: a neutralidade religiosa.
A UBT é de fato Católica. Senão vejamos:
- A ‘oração’ de São Francisco de Assis é apresentada em muitas reuniões e solenidades de premiação (alguns encaram como um poema, mas via de regra a postura dos presentes durante a recitação indica devoção religiosa).
- Imagens e esculturas de personagens da tradição católica são frequentemente usados como motivos para troféus. - Nomes e expressões da liturgia católica são adotados muitas vezes como temas para concursos.
- Trovas natalinas ocupam quase 100% das publicações ubeteanas no fim do ano.
- A árvore de Natal faz parte da decoração na reunião de dezembro de pelo menos uma seção da UBT.
- Quando se noticia a morte de trovadores é comum expressar-se a crença católica de que foram para o céu, e até estão fazendo trovas lá...
- A maioria dos Jogos Florais inclui na programação das festividades a celebração de uma missa.
Em vista dos fatos, é inegável o envolvimento da UBT com a religião católica.
Ao que parece quase ninguém se importa com isso, pelo menos não a ponto de questionar diretamente, embora alguns expressem em particular seu desagrado.
Não interfiro no livre-arbítrio de ninguém, apenas estou colocando os MEUS motivos e sentimentos, pois hoje sinto-me na condição expressa no velho ditado: “os incomodados que se mudem”.
Ainda assim, quem sabe se minha exposição não seja o início de uma tomada de consciência que no futuro resulte na aceitação, como vem acontecendo em outros âmbitos (p.ex. escolas e repartições públicas) do fato de que o favorecimento de uma determinada religião não deve mais ter lugar em nenhuma instituição aberta a pessoas de todos os credos.
Falando por mim, estou plenamente convencido de que a Bíblia é de origem divina e procuro pautar minhas esolhas e ações nas diretrizes traçados por ela. Entre essas, por se aplicarem diretamente ao assunto em questão, menciono as seguintes:
1. O uso de imagens e ícones na adoração é encarado por Deus como idolatria e inaceitável para os cristãos
(Deuteronômio 5:8, 9; Salmos 115:4-8; 2 Coríntios 5:7)
2. Símbolos e costumes adotados pela IC de antigos cultos pagãos são inaceitáveis para Deus, p.ex. os relacionados com a celebração da Páscoa e do Natal (2Coríntios 6:14-17)
3. Não se deve dar a homens e nem mesmo a anjos honra adorativa (Atos 10:25, 26; Apoc. 22:8, 9). Não há absolutamente ninguém designado por Deus como mediador entre Ele e os homens, exceto Jesus (João 14:6; Atos 4:12)
4. Ao morrer, a pessoa não continua de alguma forma viva e consciente (Eclesiastes 9:5, 10; Daniel 12:13) e nem todos os bons irão para o céu (Atos 2:34; João 3:13; Salmos 37:29)
5. Jesus não pregou nem praticou o ecumenismo, deixando o modelo para os verdadeiros cristãos (Mateus 7:13, 14; 2Coríntios 6:14-17).
Devido à minha posição já tive dificuldades ao tentar lidar com situações constrangedoras nos encontros da UBT, quando envolvia algo inaceitável para minha consciência treinada pela Bíblia, como aceitar um troféu de cunho idólatra, ou justificar minha ‘esquisitice’ por não ir à missa ou participar de atividade cívica.
Finalizando, quero pedir encarecidamente aos meus amigos, mesmo aos que promovem alguma(s) das práticas citadas, que entendam que não tenho absolutamente nada de pessoal contra ninguém, e que continuem a ser meus amigos os que puderem entender e aceitar isso. Coloco-me inteiramente à disposição para esclarecer qualquer ponto em que haja dúvida, e reitero a minha estima a todos os meus irmãos trovadores.
Assumindo a plena responsabilidade pelas opiniões expressas, identifico-me:
Pedro Ornellas.
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