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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Maria Thereza e Eu

Amo a trova desde que me conheço por gente.
Garoto da roça, década de 60, tinha pouco acesso aos livros, mas devorava todos os que me caíam às mãos.
Li e reli muitas vezes um livro de J. G. de Araújo Jorge, “Cantigas do Só”, e outro, uma coletânea de sonetos, que minhas tias Maria e Marina me emprestaram.
Os livros de Português sempre traziam poemas de autores consagrados do passado.
Eu copiava tudo para um caderno e nunca perdia uma oportunidade de aumentar minha coleção.
Foi então que teve início uma história de amor que começou assim:
Nos armazens da minha pequena cidade, Inajá PR, os vendeiros usavam jornais velhos para embrulhar mercadorias. Eu os amofinava vasculhando as pilhas de jornais sobre o balcão. O que eu procurava?
Uma coluna que se intitulava: “TROVAS – por Maria Thereza Cavalheiro”. Quando encontrava, disfarçadamente surrupiava a folha, dobrava e enfiava no bolso. Minha coleção favorita!
Passaram-se os anos, já morando em São Paulo e reconhecido como poeta trovador, nunca tirei da mente o nome e o semblante na pequena foto que acompanhava aquela coluna de trovas.
Quem era ela? Seria ainda viva e que idade teria? Será que ainda publicava trovas?
Certo dia, creio que foi em 1986, para minha surpresa, vi o anúncio de lançamento de livro dela.
Havia um telefone para contato. Liguei imediatamente e fui atendido pela Amarillis, que se identificou como prima dela. Pedi seu endereço para correspondência. Escrevi uma carta, incluindo alguns sonetos e trovas.
Ela me respondeu rápido com uma cartinha amável, na qual elogiava meus escritos e me convidava para o lançamento do seu livro.
Ao chegar, fui recebido pela simpática Amarillis, que para minha alegria se lembrou de mim.
Ela me falou sobre a herança poética das duas, sobrinhas netas de Colombina.
Eu estava ansioso por conhecer Maria Thereza pessoalmente. Ao avistá-la, de cabelos branquinhos, distribuindo autógrafos e sorrisos, fiquei tomado de emoção.
Por algum tempo fiquei parado, olhando para ela e pensando se aquele momento era real.
Em minha imaginação Maria Thereza tornara-se um símbolo, uma deusa da trova, quase que uma personagem que não pertencia ao mundo real.
Mas ela estava ali, bem na minha frente! Custei a crer que fosse a mesma dos jornais velhos, que me inspirou a fazer trovas!
Ela me recebeu com carinho e alegria, valorizou minha poesia, me fez sentir importante.
Desde então, já por uns 25 anos, tenho tido o privilégio de sua amizade e recebido dela consideração especial: cartas escritas à mão como nos bons tempos, entrevista no jornal “O Radar”, uma trova minha ilustrando suas aulas de trova em seu livro “Segredos do Bom Trovar – 1989”, a inclusão de trovas em suas colunas (sempre me envia os recortes), e publicação de diversas trovas minhas nos adesivos das pastilhas Alabarda, o que fez com que uma delas se tornasse bem conhecida e divulgada em muitos sites e perfís do orkut (Por natureza, enganosa / meiga e boa – quando quer! / Fogo e gêlo, espinho e rosa... / Anjo e demônio: Mulher!).
Agora sei mais sobre minha personagem: nasceu em São Paulo, em 1929, poeta desde a infância, advogada, jornalista, tradutora, conferencista, ecologista e escritora, sua verdadeira paixão.
Em 11/09/1969, fundou, com a colaboração de Amaryllis Schloenbach, prima e amiga inseparável, a Seção Municipal de São Paulo da União Brasileira dos Trovadores - UBT, à qual presidiu até 1976 (por motivos que desconheço, e sobre os quais não encontrei referências, a UBT seção São Paulo não reconhece esse período e considera sua fundação em 1979, tendo como primeiro presidente Izo Goldman, meu prezado amigo).
Desde 1973, Maria Tehereza Cavalheiro tem publicado sua coluna “Trovas” em diversos jornais e revistas da capital paulista.
Mantém por mais de 30 anos sua coluna poética no jornal “O Radar” de Apucarana PR, onde publica trovas,
entrevistas e biografias de trovadores.
Desde de 2004, em sua coluna na revista “Bali”, do amigo Kleber Leite, Itaocara RJ, continua fazendo o que sempre fez: trabalhar pela poesia, dando a conhecer poetas e suas obras.
Detentora de inúmeras premiações e colecionando láureas em reconhecimento de seu trabalho, Maria Thereza parece não se importar muito com a estranha ausência de reconhecimento por parte de algumas elites da trova.
E ela não precisa mesmo! Sua carta de recomendação são seus 64 anos dedicados à causa poética, e todos os resultados conseguidos em favor desta.
Entre tantos outros poetas sou beneficiário de seu trabalho abnegado, feito com amor e carinho, e considero-me seu eterno devedor, por não ter absolutamente como retribuir tudo o que fez e continua fazendo por mim, a não ser com minha gratidão e amizade.
Ela continua muito ativa nos seus 82 anos e certamente ainda contribuirá muito para o crescimento da trova, valorizando o talento de novos poetas e dando exemplo de altruísmo e amor à arte.
Maria Thereza Cavalheiro merece o reconhecimento e o aplauso de todos os poetas do Brasil.
Que Deus a conserve assim por muitos e muitos anos!

3 comentários:

  1. Comentários recebidos por email:

    Caro Irmão Trovador Pedro Ornellas
    Tomei conhecimento do email que você enviou para Carolina, sobre Maria Thereza Cavalheiro.
    Fiz parte da tentativa de funcação da Delegacia da UBT em 1967, por iniciativa da trovadora Antonieta Borges Alves e, mais tarde, com mais de trinta poetas e poetisas, participei da definitiva fundação da UBT, seção São Paulo.
    Tenho certificado do sócio fundador, guardado com carinho e assinado pelas trovadoras Amarilys e Maria Thereza, nessa ocasião, respectivamente secretária e presidente da entidade...
    Cláudio de Cápua – UBT Santos SP (texto recebido por carta).

    Pedro: Parabéns pelo texto.
    Vc tem toda razão quando diz que Maria Thereza Cavalheiro não tem tido por parte da UBT um reconhecimento digno pelo trabalho que vem realizando há tantos anos pela Trova. Talvez alguma diferença no passado tenha causado este distanciamento. Mas acho que não há espaço para este tipo de posicionamento hoje. Na primeira oportunodade falarei com o Eduardo Toledo para ver o que se pode fazer. Ou mesmo com o pessoal de São Paulo (Selma, Domitilla). Quem sabe... Abraços,
    Arlindo Tadeu Hagen (vice-presidente nacional da UBT)

    Muito bom o seu texto sobre Maria Thereza ela o merece. Conheço a poetisa de longa data, e sempre a considerei minha amiga.Ela e suas prima Amarillys, por sinal muito simpática, já estiveram, em minha casa. A vida se encarregou de borrifar água fria entre nós atráves de circunstâncias que já sou incapaz de lembrar e nem me esforço para tanto. Uma coisa lhe asseguro, Pedro. Sempre fui amiga sincera de quem me estendeu a mão como amigo e como amigo correspondeu à minha amizade. Abomino a insinceridade. E como abomino! Você também me conhece e sabe que é assim. Sei respeitar limites e gosto de ver respeitados os meus. Se ela se afastou, terá tido suas razões. Como tenho as minhas. Acredito que há muito a desejar antes que nos denominemos presentemente, amigas. Valorizo o seu trabalho, considero-a uma boa poetisa, assim como Amarillys, que nunca deixei de estimar.
    Defendi as duas, muitas vezes(Thereza, principalmente), de línguas malígnas de gente que se dizia "amiga" (delas) e por detrás, provava, de sobejo, que não era! E defendi-as com a veemência que você bem conhece!
    Carolina Ramos (presidente regional da UBT)

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  2. Caro Pedro,
    Numa das vezes que estive em Nova Friburgo, numa roda de cerveja,com Helvécio,Dias Monteiro,Montemor, entre outros... falavamos da difusão nacional de alguns trovadores,o que colocava na grande mídia a UBT,trovas e biografias. Gazeta Esportiva,Noticias Populares, revista Capricho (encarte),publicações do Paraná (estou com um xerox do Centro de Letras,há mais de 100 editado no Diário da Manhã de Ribeirão
    Preto)... Veja que a edição desses jornais circulavam com estratégia por muitos locais; além os poetas focalizados recebiam copias. Na revista simpatia,a carta a Maria Thereza de Jorge Amado, definia a Trova como imortal. Temos hoje (via internet, Leila Miccolis...)
    Conheci-a em Nova Friburgo. Quero ainda fazer um grande encontro de trovadores,em Ribeirão Preto... Estava preparando para este ano,não deu. A UBE fará o seu encontro nacional no fim de ano. Precisamos “dar vida” a muitos trovadores que andam sumido...
    Precisamos de um destaque ao verso: “nos os trovadores somos senhores ...”
    Nilton Manoel (presidente da seção Ribeirão Preto da UBT)

    Oi Pedro!
    Também sou fã de Maria Thereza Cavalheiro...
    Conheço bem o incansável trabalho dela pela Trova e a admiro muito.
    Parabéns por seu belo depoimento! Besos,
    Gislaine Canales – SC

    Oi Pedrinho - Maravilhosa a sua apreciação sobre a Maria Thereza. Ela merece palavra por palavra do que v. escreveu. Eu não tive ainda oportunidade de conhec^-la pessoalmente mas tenho tido alguns contatos com ela, sempre muito atenciosa. Cheguei ao cúmulo de pedir-lhe que voltasse a conviver com os trovadores de São Paulo, onde poderia encontrá-la quando tivesse a sorte de ser premiado alí. Com grande sabedoria ela pediu-me para não responder senão que tinha suas razões para ter-se afastado. Que pena... Vai daqui o meu abraço de parabens.
    Hermoclydes Siqueira Franco – RJ

    Pedro, gostei muito desta apreciação, porque eu tambem mereci e tenho merecido a atenção desta grande poeta e trovadora. Ela fez uma seção sobre mim, no Radar, com foto e com palavras alentadors, e quando lhe enviei o meu livro, travessia, la fez uma lista das poesias que mais lhe agradaram. São as que sairam mais do fundo de mim. Gusradei a lista pata ter uma referncia sobre o que de mim é mais apreciado.
    Não sabia que ela tinha fundado a primeira seção da UBT São Paulo. Se esqueceram disso, é uma ingratidão. Valeu a informação. Abraços
    Alba Christina – UBT São Paulo.

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  3. Comentários recebidos - 3


    Olá pedro: eu li esta gostosura; uma delícia o modo como voce descreveu sobre a grande trovadora Maria Thereza; também eu já apareci na coluna de trovas de sua autoria em "O Radar". porém, estranhei muito voce dizer que " o radar" está extinto, não está não; tenho recebido esporadicamente mas tenho; deve haver um engano aí. att
    Sônia Ditzel Martelo

    Oi Pedrinho, que bela a amizade de vocês! Também tenho o privilégio de fruir da amizade de Thereza. Correspondemo-nos, e até estou com carta para responder. Ela, muito além do enorme talento, é uma criatura adorável. Pela carta, ela havia tido uma crise, mas agora já está bem. Que Deus conserve com boa saúde nossa querida amiga! Abraço /
    Dorothy Jansson Moretti – SP

    Li o texto do Ornellas,
    juro que me emocionei.
    Minhas rosas amarelas
    Para Thereza entreguei.

    Agradeço, muito, a lembrança de me enviar este saboroso e inspirado texto. Fiquei com inveja por não conhecer Maria Thereza.
    Ulisses Braga

    Meus parabéns, caro Pedro Ornellas. Seu texto dignifica essa excelente poetisa! Mais, ainda: mil parabéns , Maria Thereza!
    Héron e Yedda Patrício – UBT/SPaulo

    Pedro, me emocionei com seu belíssimo conto real!! Além de você nos proporcionar o conhecimento de uma poetisa singular, ainda prova, através desse gesto maravilhoso, sua verdadeira alma poeta. Obrigada por esse texto maravilhoso! Abraços mineiros.
    Verônica Martins - MG

    Pedro, sua história com Maria Thereza é de uma beleza ímpar! Quem dera todas as pessoas fossem assim...
    Que ela possa continuar por muitos e muitos anos para mostrar a todos a grandeza de alguns seres! Obrigada por partilhar algo tão intenso e gostoso. Abraços
    Márcia Sanches Luz

    Parabéns, Pedro Ornellas, pelo texto sobre Maria Thereza! Está lindo e ela merece. Agradecida!
    Delcy Canales – SC

    Olha, Pedro, só pessoa como vc é capaz de tamanho reconhecimento.Não são poucos aqueles que se espelharam em alguém e acabam se esquecendo. Parabéns Maria Thereza, por ter inspirado um valoroso poeta. Abraços
    Wandira Fagundes Queiroz – PR

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